4/14/2021 0 Comments Uma família perfeita( de 2015)
O JM, numa crença muito própria que foi buscar sabe-se lá onde ( tanto como as nossas!) e que não admite pôr em causa com nenhum argumento (tanto como nós!), acredita e apregoa que uma família para o ser tem de ter pares de género na sua constituição. Eu , ele e o pai não éramos uma família. Pais e duas meninas ou dois meninos não são uma família, pais e três filhos não são uma família(!) Eu abespinhava-me, corrigia, questionava até que ele cedeu... um pouco: - É uma família... mas não é uma família perfeita! Aí tive de concordar. Por exemplo, eu, os meus pais e a minha irmã, não somos, realmente, uma família perfeita. Tantas vezes há palavras que magoam no cardápio dos almoços alargados, tantas vezes falta um olhar na despedida apressada, tantas vezes ficam por dizer: obrigada, amo-te, tive saudades. Tantas vezes chocam egos, se abre o álbum das memórias doridas ou se fazem cobranças de carências mal paradas. Não somos uma família perfeita. Às vezes há berros e lágrimas e listas de deve e haver. Batalhas connosco próprios, no fundo. Batalhas que nos sentimos seguros de travar na arena almofadada da família que somos. Às vezes há nervos em franja e emoções à superfície da pele - mas são apenas isso mesmo: pele morta que se esfolia. Porque debaixo, no âmago do que somos, nunca há cobrança no que realmente importa, nunca medimos ou trocamos amor, Porque depois estamos sempre, somos certos, damos uns aos outros sem ser preciso pedir, não nos falhamos. Partilhámos afetos, numa verdade do que somos, em algazarras alegres e discussões acesas e cuidámo-nos, sem fugir dos momentos difíceis. Eu, ele e o pai também não somos, realmente, uma família perfeita. Tantas vezes nos falta humildade, compaixão, tolerância, e sobra-nos cansaço agudo ou dores crónicas. Tantas vezes, fazemos inventários de queixas em vez de beijos ou medimos forças em vez de abraços. Já tombamos de tanto balançar sem conseguir o equilíbrio. E aprendemos que só dando a mão um ao outro nos conseguiríamos levantar. Amuamos, zangamo-nos mas depois, pedimos desculpa. O amor o que é? Um encontro de almas? Ou almas um tanto diferentes que se encontram todos os dias mais um bocadinho? Agora que teve uma irmã, o JM vive na ilusão que tem uma família perfeita. Eu deixei de implicar. E apenas refleti nesta visão estreita de família: Tantas vezes não a vemos enraizada, baseada em crenças tão ou mais tontas, "Uma mãe e um filho não são uma família" "Dois pais e uma filha não são uma família" "Um mãe um pai e um filho que nasceu doutra barriga não são uma família" em pessoas com bem mais de cinco anos?
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