1. a autoridadeEsta semana, um dos pilares estruturantes desta "casa" que é a Parentalidade Consciente, tem abanado um pouco, por cá, o que me obrigou a parar para o reparar na minha interação com as crianças.
E esse pilar é a Autoridade que, numa Parentalidade mais tradicional, na verdade, não existe, o que existe é o autoritarismo. Encontro muitas pessoas que não conseguem fazer a distinção entre estas duas formas de educarmos e de nos relacionarmos com as crianças e não só, até profissionalmente, por exemplo, faz toda a diferença termos um chefe-mandão ou um líder inspirador, certo? O autoritarismo esta baseado numa relação de hierarquia, de obediência, e quase sempre baseada no medo das consequências - há a aceitação implícita de que há um mais forte é um mais fraco, recorre a algumas formas de violência e coação. Há a ideia de que um tem mais poder do que o outro e nisto reside a maior confusão: numa educação autoritária há sobretudo abusos do poder que uma das partes detém. Pelo nosso lugar na relação - como pai ou mãe , mas também, por exemplo, como líder de uma equipa, como professor - temos, desde logo, mais poder de base. E a criança , o aluno, o nosso colaborador sabe isso. Temos mais meios ao nosso dispor, sejam eles quais forem e isso confere-nos poder. E o que nós, muitas vezes, fazemos com ameaças, ferindo a integridade, com castigos e punições, e mesmo com as recompensas é sistematicamente abusar do poder que temos pelo lugar que ocupamos. Há uns anos li o maravilhosos livro do sociólogo e investigador Dasher Keltner, O Paradoxo do Poder, que tão bem explica como quando começamos a abusar do poder que nos foi conferido começamos a perder poder aos olhos dos outros. Quando usamos o nosso poder sem abusar dele temos o conceito de Autoridade e esse trabalho contínuo em que usamos com respeito e para o maior bem de todos o Poder e a Responsabilidade Pessoal que temos por ter determinado papel - pai, líder, governante, professor - e, assim, a nossa a Autoridade aumenta cada vez mais. Aqui ficam algumas perguntas que fiz a mim mesma por estes dias e que vos convido a fazerem a cada momento e sobretudo quando sintam que estão a imergir num modelo de autoritarismo:
Há outro lado muito interessante de tudo isto. Um dos sinais inequívocos de que estamos no domínio da autoridade é não ter medo de conferir autoridade e poder aos outros. O papel da Responsabilidade Pessoal, em Parentalidade Consciente, é muito forte, de parte a parte. Nunca a criança pode ser responsabilizada pelo que compete ao adulto assegurar, mas podemos delegar e permitir o seu desenvolvimento com autonomia sempre que ela o queira e esteja preparada. Claro que quando estamos cansados, sem recursos , sobrecarregado, a experienciar emoções como incerteza, insegurança, medo, ansiedade fica muito difícil exercer esse papel de lidarança serena e corajosa e facilmente resvalamos para o autoritário, reativo que vive em nós. O que vos digo é que quanto mais construirmos uma relação baseada na autoridade, Responsabilidade Pessoal, Confiança e Respeito com os nossos filhos, menos mossa fazem os repetentes ditatoriais que nos assolam. E a qualquer momento podemos largar esse personagem e entrar na autoridade carinhosa e forte que nos é natural e fácil de exercer se estamos em contacto com os nossos limites pessoais e os nossos valores maiores. Nesta pandemia vimos muitos supostos líderes perderem completamente a credibilidade, sobretudo quando recorreram ao autoritarismo, e ao "eu é que mando" e vimos outros ( sobretudo outras!) a ser respeitadas e "seguidas" ao envolverem a população e com muita proximidade, responsabilidade e humildade exercerem a sua autoridade. Vale a pena pensar no tipo de pais que queremos ser para inspirar os nossos filhos a serem eles ou exigirem sempre, lideres à sua altura. :) Com um abraço, Mariana Este post é um resumo inspirado no episódio 3 da série 2 do #podcastcocegasnocoração que podes ouvir, na íntegra aqui .
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(para usar com miúdos e graúdos)A forma como comunicamos é crucial para modificarmos de forma real e efectiva o tipo de relacionamento que desenvolvemos com os nossos filhos e a qualidade de todas as internações que temos com quem nos é próximo. É fundamental ganharmos competências na forma como comunicamos porque senão , mesmo que alteremos crenças , por muito boas intenções que tenhamos, vamos acabar por cair no "piloto automático", nos velhos padrões que usaram connosco, que vimos e vemos ser utilizados.Não dá só para acreditar numa Educação diferente, há que conseguir coloca-la em prática, sob pena de ser inútil e até frustrante ganhar consciência de novos caminhos e valores. A Comunicação Consciente é assim uma competência que nos ajuda a comunicar melhor connosco próprios, que nos convida a comunicar com mais autenticidade e verdade, e nos permite uma conexão muito mais autêntica com os outros (crianças ou adultos). Aqui ficam alguns princípios básicos e algumas dicas para a utilizarem já aí em casa: 1. Em primeiro lugar, importa ganharmos consciência no tipo de linguagem que utilizamos. largamos o tipo de linguagem que não cria conexão, porque não fala nem de nós nem das nossas crianças. Palavras como tens de, devias, é suposto, não se pode, são banidas e substituídas por uma linguagem pessoal. Usamos o Eu quando estamos a falar sobre nós, verbos como quero, gosto, não quero, não consigo. 2. Em segundo, falamos das nossas emoções ( sem culpar o outro delas) e das necessidades associadas , em vez de regras abstratas, de certo e de errado, ou seja largamos o plano mais mental ( juízos de valor, julgamentos, rótulos, preconceitos) e acedemos à nossa verdade, o que importa para nós naquele momento. 3. Quando queremos chegar ao outro - adulto ou criança - importa desativar o ditador e o acusador e ativar uma espécie de detetive, de investigador : fazer mais perguntas do que afirmações, genuinamente procuramos entender onde está o outro emocionalmente e quais as suas necessidades na situação. É tão importante sentirmo-nos vistos e que importamos para alguém que muitas vezes, ficarmos neste ponto , prolongarmos a conversa sobre as razões do outro, os seus sentimentos e necessidades é mais importante do que satisfazer na realidade o pedido ou o seu desejo. Na verdade o "não" ao pedido não é um não à pessoa - embora muitas vezes é a isso que soa e talvez essa seja a razão principal de uma "birra" ;) 4. Se estamos numa situação que precisa de chegar a um consenso entre todos, avançamos para um pedido ou colocamos na mesa as alternativas e preparamo-nos para negociar. Este ponto é tão importante porque na verdade, quando dizemos que as nossas crianças não colaboram, o que acontece é que elas não obedecem - ninguém gosta de ter de obedecer verdade? Como podemos comprovar no período que estamos a viver, é muito mais interessante, saudável e eficaz quando somos convidados, ou nos é pedido algo e nós acedemos, de livre vontade a colaborar, a fazer, sem sentirmos que há uma consequência ou castigo ou que é imposto. Tornamo-nos parte da solução e isso faz-nos querer participar e acrescentar valor, fazer a nossa parte, não só abanar com a cabeça e resigarmo-nos. Repensar a educação das nossas crianças, a este nível, criará jovens e adultos muito mais responsáveis, social e individualmente - e isto é educar. Com um abraço, Mariana Este post é um resumo inspirado no episódio 2 da série 2 do #podcastcocegasnocoração que podes ouvir, na íntegra aqui . 4/16/2020 1 Comment Regresso à escola... em casa!(5 princípios* para sobrevivermos)Este regresso às aulas é muito especial: por tudo que acontece à nossa volta, lá fora, mas sobretudo pela dinâmica peculiar que se desenvolve “cá dentro”: e por cá dentro refiro-me claro, a estarmos confinados às nossas casas, à escola se ter mudado para dentro das nossas casas, e o nosso estado de espirito ser também ele posto à prova por estes dias. Nós (re)começamos ontem, com videoconferências, plataformas de trabalho de grupo, correspondência por email, e … muitos desafios, claro. No final do dia, antes de adormecer de cansaço , permiti-me a fazer um balanço do que quero manter e do que quero alterar, do que correu bem e do que vai correr melhor. Consegui definir algumas intenções e contei 5 princípios orientadorespara bem da aprendizagem dos miúdos e saúde mental dos graúdos! Aqui ficam:
1. Definir onde posso e devo intervir Eu sou responsável por criar as boas condições para que a aprendizagem dos meus filhos ocorra no seu melhor. O meu poder é controlar o contexto, promover os espaços e os hábitos de boa saúde e bem estar. 2. Dar um passo atrás e não interferir no seu processo de autonomia, aprendizagem, estudo, horários de tarefas e interação com a escola e Professora. Se for preciso ajudar pontualmente, dar apoio a nível da organização ou fazer uma espécie de ponto de situação, reservar um momento especifico para isso no final do dia, por exemplo, de resto, sair de cena. 3. Quando os espaços escola-casa estão misturados é ainda mais importante não o fazer psicologicamente. Importa colocar no mesmo grau de prioridade, as atividades físicas, de preferência algum tempo fora de casa, os momentos de laser e descanso “ativo” e convívio ainda que online com os amigos e bons momentos de conexão connosco, que normalmente são sobre todos os assuntos menos sobre a matéria de estudo do meio - os nossos filhos são seres humanos complexos, com multiplos interesses , gostos e pensamentos só à espera de ser vistos por tudo o que são. 4. Fomentar outro tipo de responsablidade que não a nível escolar , de colaboração nas tarefas do dia a dia, adaptadas e a partir de idade adequada , claro. Há muitas pequenas tarefas que as nossas crianças mais crescidas podem assumir e que ajudará a tornarem-se adultos de sucesso tanto ou mais do que saber de cor a tabuada, além de os fazer sentir autónomos, de confiança e parte da família. 5. Lembrar-me de que as crianças - embora tenham uma inteligência emocional e espirito mindful de se manter no presente espantosos - absorvem as nossas energias e estados emocionais, que nestes dias, podem andar um pouco à toa, o que os pode afetar em maior ou menor grau, mas não os torna de certeza imunes aos tempos peculiares , aos medos e às imagens e conversas que testemunha, Tudo isso pode levar a comportamentos menos normais ou pacíficos . Além disto, estão privados do ar livre, das atividades habituais e da socialização com os pares - muito importante, fonte de bem estar e equilíbrio, para as nossas crianças mais velhas. Tolerância e compreensão são as palavras de ordem, sem medo de deseducar ou estar a ser complacente. Conversar sobre as emoções e necessidades em falta (nossas e deles), ser autêntico sobre as questões da atualidade e como estamos a vivê-las, ouvir as suas ansiedades e desafios, sem julgar nunca porá em causa a nossa liderança ou autoridade como pais, só a reforçará. Um abraço, Mariana *quando a escola voltar a acontecer no seu espaço próprio, continua a colocar em prática estes principios orientadores - só pode ter boas consequências. Este post é um resumo inspirado no episódio 1 da série 2 do #podcastcocegasnocoração que podes ouvir, na íntegra aqui . Os Professores precisam de uma Escola-Casa, precisam de fazer da sala de aula a sua sala de estar – e, na verdade, a sua cozinha, o seu jardim, o seu atelier inspiração.
Havia de existir, na Escola, quem fosse o Cuidador do Professor que lhe levasse, na primeira hora da manhã, flores frescas para a sala [e um café extra nos dias cinzentos ]. Os Professores não merecem aulas de noventa minutos, nem sequer merecem aulas. O dia a dia de um professor havia de ser passado onde e como ele bem quisesse, junto dos seus alunos-convidados, na sua casa-escola ou fora dela, nesse espaço maravilhoso que é a escola-jardim, a escola-rua, a escola-mundo. Os Professores precisam de ter, uma vez por semana, Conselhos Amorósicos que lhes falem de compreensão e esperança e happy hours todos os dias; precisam de sentir-se aprendizes junto das crianças e de poder mudar de profissão quando deixarem de estar apaixonados pela infância e pelo que fazem. Os Professores precisam de poder errar, de não ter metas rígidas a cumprir, de fazer da escola uma brincadeira de crianças, no que de mais sério, proveitoso e transformador esta encerra. Mais do que ensinar, os Professores precisam de inspirar, precisam de se sentir livres e poderosos, tranquilos e entusiasmados, cada manhã, para que, ao fim do dia, as nossas crianças também se sintam assim. Precisam de recuperar as forças e o desejo para abrir as janelas de par em par [ e tantas vezes quebrar as grades de preconceitos e crenças ] e respirar o ar fresco, sem medo do arrepio que vem com a mudança. Os Professores precisam de Centros de Recursos Positivos repletos de ferramentas para a mochila das horas difíceis, precisam de um Plano de Apoio ao Estudo ao longo da vida sobre o que lhes põe os olhos a brilhar. Os Professores precisam de querer levar trabalho para casa, não ser obrigados a fazê-lo. Os Professores precisam de abrandar o ritmo, largar as rédeas e ser levados ao colo, sim. Precisam de ser ouvidos, acarinhados e salvos da avalanche que a infância [ ou a juventude ] multiplicada por vinte consegue ser. Precisam de ter onde [ e com quem ] dividir angústias e somar contactos, de ter mais poesia nos seus dias e relançar os dados da equação da educação – torná-la integral, diversificada e significativa para as crianças destes tempos. Os Professores precisam de avaliar sorrisos e ser avaliados pelo número de vidas que tocam, precisam de um Ginásio para a mente onde haja espaço para treinar a flexibilidade do pensamento, onde possam relaxar os músculos da calma e onde redescubram o ritmo acelerado de um coração que está vivo. Os Professores precisam de receber em dobro tudo que dão para que nunca se sintam fonte sem água, essa que acalma a sede [ de tudo ] das nossas crianças. Precisam de uma Cantina onde se sirvam bolinhos da boa sorte todos os dias, onde haja sempre disponível chá que aqueça as mãos frias dos Invernos do ano lectivo. Precisam de ter direções solares e Ministérios movidos a eólicas para que as energias sejam sempre renováveis, livres de emoções tóxicas e sentimentos poluentes- ou então aprenderem a fazer a sua própria central ecológica. Os Professores precisam de um Livro de Ponto(s) – onde registem os pontos de interrogação em cada desafio lançado, e os pontos de exclamação em cada fim de dia cansado. E onde coloquem os pontos finais no desânimo e práticas obsoletas, onde possam fazer as pausas necessárias entre parágrafos longos demais, e escrever as orações que lhes devolvam a fé na missão que escolheram para a sua vida. Precisam de um Livro em Branco que se encha, cada Setembro, ( ou em cada Primavera!) de cores vibrantes que são a expressão única de cada criança e de cada viagem que com elas fazem; um livro de cujas páginas saiam só notas de música, uma sinfonia tocada a múltiplas mãos e inteligências, mais ou menos (des)afinada, mas cheia de emoção, aprendizagens e sempre, sempre original. um abraço mãedful, Mariana #1.
deixa-a mover-se, explorar em liberdade, gatinhar, trepar, correr, arriscar. confia que ela consegue. #2. está lá para ela, com um abraço, um beijo, com colo que cura, de cada vez que cair, sempre que não conseguir, sempre que se magoar, que chorar. [ e volta ao #1] #3. deixa-a escolher a própria roupa, o que quer usar e não usar, deixa-a decidir, dentro do orçamento que tiveres, o que prefere comprar. deixa-a decidir que desportos quer praticar, que livros quer ler. deixa-a usar o cabelo muito comprido ou muito curto se essa for a sua vontade. #4. deixa-a brincar com os teus sapatos, batons e blushs mas não lhe fures as orelhas sem ela pedir e nunca a faças sentir que é mais bonita por nada que vestir ou usar. #5. não a forces a dar beijos a ninguém, a comer ou a tomar banho. pede-lhe autorização para a lavar, para tocar no seu corpo. #6. conta-lhe histórias de princesas que só depois de se salvarem a elas próprias é que encontraram o príncipe encantado. e histórias de príncipes valentes porque enfrentam os dragões que existem dentro de si próprios e gostam de princesas que não precisam de ser salvas de nada. #7. não lhe impinjas brinquedos ou brincadeiras que tu achas que ela gosta ou que são apropriadas. percebe, primeiro os seus interesses (sem julgamentos) e deixa-a a brincar com o que ela gosta mais: com uma cozinha, barbies, legos, espadas ou oficinas. #8. dá-lhe mesada ou semanada, desde cedo (considero que se pode fazê-lo a partir dos cinco anos) e deixa-a decidir como gastar (ou poupar) o seu dinheiro. #9. cuida da alimentação que tens à sua disposição e deixa-a, o mais cedo possível, ser autónoma e decidir quanto, quando e o que quer comer. não faças comentários sobre o seu peso ou corpo. #10. não poupes no afeto, no colo, na verbalizarão das emoções. respeita se é tímida, calada, envergonhada, faladora, espalha-brasas, destemida, mandona, teimosa, chorona, sem nunca verbalizares estes rótulos ( mesmo que apareçam nos teus pensamentos!). nunca a faças sentir mal pelo que é ou como se está a sentir ou a fazer – há sempre razões para um comportamento ( sobretudo para os mais desafiantes!) #11. não elogies e não critiques. observa, escuta, reconhece, pergunta e escuta (não, não foi gralha: escutar nunca é demais!) #12. deixa-a ser dona do seu tempo, responsável pela mochila e pelos tcp. não ligues a notas, nem a conquistas que não sejam a alegria nos olhos, a vontade de aprender, o que a faz feliz fazer. ampara-a nas desilusões, nos medos, nas quedas, em tudo que não conseguir mas nunca faças o caminho por ela, e não vivas as emoções por ela. * e qualquer criança (seja menina ou menino). Um abraço mãedful, Mariana à segunda: “Recebe-os de braços abertos e boca fechada” Pode parecer contraditório mas o silêncio é uma forma poderosa de nos conectarmos com os nossos filhos. Muitas vezes, a avalanche de perguntas é mais para sossegar as nossas preocupações do que realmente para chegarmos até eles.Investe um momento em ti para poderes recebê-los como nos recebe um templo – faz uma pausa, algumas respirações, para que, quando entrem no carro ou em casa, estejas mesmo presente.Olhá-los nos olhos, recebê-los com afeto mas dar-lhes o tempo e o espaço que precisem. Sermos a calma e a serenidade que muitas vezes não tiveram durante todo o dia, contarmos algo sobre o nosso dia em vez de iniciarmos o interrogatório e esperar que parta deles a vontade de contar tudo que estamos desejosas de saber. à terça: “Sim aos trabalhos de casa!” Aos nossos, pois claro, que ser pai é curso intensivo de desenvolvimento pessoal! Os nossos trabalhos de casa são tudo que temos de fazer para estar “em dia” quando estamos com eles. Diria que os mais importantes são: 1.O auto-cuidado – ter tempo para ti (seja uma hora de ginástica ou dez minutos de silêncio no parque ou um jantar com as amigas) ou seja, o que te faz recarregar baterias, o que te devolve a tranquilidade conforme for possível. É imprescindível estar bem para nos “portarmos bem” com os nossos filhos. 2.Treinar o músculo do mindfulness para que as sete atitudes façam parte do teu dia e sejam fáceis de utilizar nos momentos mais desafiantes. 3.Conheceres-te e conheceres o teu filho, tentando antecipar necessidades em falta ou limites que não devem ser ultrapassados para não se instalar o conflito 4.Treinar a comunicação consciente – pratica-a com toda a gente, em qualquer oportunidade. Não só se tornará automática com os teus filhos (mesmo nos momentos mais desafiantes) como verás as tuas relações interpessoais melhoradas! à quarta: “Quem vai levar o lixo?” Divisão de tarefas e colaboração à parte, cada um deverá ser responsável por deixar o seu próprio “lixo emocional” à porta – bem, pelo menos os elementos adultos da equipa. Ao entrares em casa ou ao chegares à escola para ir buscar os teus filhos certifica-te que os teus problemas, ansiedades, conflitos no trabalho não “entram” na relação com a tua família. A família pode ser o nosso porto seguro onde desabafamos, encontramos alento e conselhos e onde recarregámos baterias mas nunca pode ser – e muito menos os nossos filhos! – o “saco de boxe” ou o caixote do lixo dos resíduos tóxicos que sobram dos nossos dias. à quinta: “As regras do amor & as rotinas da imaginação” Sei que muito do que nos consome a paciência e leva a desentendimentos são as regras, as rotinas, os horários – sejam as dificuldades em sair da cama de manhã ou as de entrar nela ao deitar, seja o inicio do banho ou o fim do tablet, parece, às vezes, que a nossa interação com os nossos filhos se resume a tarefas e às discussões que elas trazem. Salta fora desta “armadilha” que é a ideia de que ser pai ou mãe é ser gestor de tarefas, de controlar e de disciplinar. Muitos de nós, durante os dias da semana, temos apenas quatro, cinco horas por dia com os nossos filhos – aproveita-as! Claro que é preciso jantar e lavar os dentes e ir dormir a horas, mas que esses sejam momentos de conexão, de presença, e não o contrário. Sei que não é fácil, mas a verdade é que para eles também não é. Sempre que possível torna as rotinas divertidas e agradáveis. Introduzir uma brincadeira, uma novidade, um momento lúdico vai tornar tudo mais leve para todos e as crianças aprendem por imitação, não por lhes dizermos uma ( ou mil) vezes para fazerem algo! Sintoniza com o momento presente, aceita que, a cada momento, és a mãe que és da criança que tens. Lembra-te que todo o “mau comportamento” é um pedido de ajuda, é sinal de haver necessidades por satisfazer – sono, fome, falta de novidade, de conexão, de segurança, de reconhecimento, enfim, só tu podes descobrir – e que toda a resistência é falta de conexão. Comunica os teus limites de forma pacifica e sem reatividade, assegurando que respeitas os deles – verás como tudo se torna mais simples. à sexta: “Uma espécie de máfia reúne: A Família” Esta é uma das ideias preciosas que pode encontrar no Educar com Mindfulness da Mia Övén. Pode ser à sexta ou em qualquer outro dia, não tem sequer de ser semanal, mas criarem um momento “neutro”, marcado com antecedência, cria um ambiente seguro, livre de julgamentos que fomenta a conexão entre todos. Na reunião de família podem fazer um balanço da semana, trazer a lume algo que acham estar a correr bem ou menos bem, fazer planos, discutir a divisão de tarefas, expor alguma mágoa ou necessidade. Todos deverão ser ouvidos e devemos praticar o igual valor. Normalmente os mais pequenos valorizam muito as reuniões de família por sentirem que têm voz e que as suas opiniões contam, o que ajuda ao desenvolvimento de uma boa auto-estima.Que seja um excelente ano letivo! com muito mãedfulness, Mariana
Dicas mãedful:
Ao contrário do que se diz, muitas crianças não gostam de rotinas. Algumas gostam e precisam delas e muitas crianças valorizam muito mais a novidade, a experiência, o inesperado do que o “sempre igual”, o previsível e muito mais em atividades que não sejam brincar, divertir-se. Qual é a graça de lavar os dentes? Sei que me vão dizer que tem de ser, que é assim, que é preciso. E é, segundo os nossos valores e crenças, faz parte de um cuidado seguro e saudável. Dicas mãedful:
3. As crianças querem ( e precisam ) de ter autonomia e poder de decisão Muitas vezes, fazemos pelos nossos filhos coisas que elas já conseguem e até gostam de fazer sozinhos e muitas vezes queremos decidir coisas só porque sim, sem qualquer respeito pela sua individualidade, gostos, opiniões e sensações. A roupa, a comida, a fome e o frio são bons exemplos disto! E de muitas “guerras” que podem ser evitadas se nós largarmos um bocadinho o controlo e confiarmos Dicas mãedful
Das muitas mães com quem falo e acompanho esta é a realidade mais normal – se não recorremos a chantagens, se não é por medo ou para obter algo, a maioria das crianças não quer ir dormir nem sozinha, nem no escuro, nem à hora que nós mandamos! Sei que vão dizer que as crianças precisam de descansar, de ter as horas de sono necessárias e que os pais também precisam de tempo para si. Tudo isto é verdade. Dicas mãedful:
(As crianças querem – acima de tudo – conexão ) E, às vezes, procuram-na de maneiras muito estranhas: batendo, atirando facas (!), desafiando. Sei o que vão dizer: mas se não castigamos, se não mostramos que estão a errar, como vão aprender a comportar-se? Acredito que todo o comportamento visa a satisfação de alguma necessidade. E estes comportamentos agressivos, desafiadores querem dizer apenas duas coisas: ou “estou mal, ajuda-me, não estou a saber lidar com esta situação / emoção, os meus limites foram ultrapassados” ou “olha para mim, diz-me que gostas de mim, dá-me atenção de alguma maneira, mostra-me que te importas comigo”. Dicas mãedful:
12/4/2019 0 Comments gritar não é amarLi, aqui há dias, um texto que, como um holofote, iluminava um ângulo mais agudo nestas coisas da parentalidade, mais ou menos consciente, mais ou menos positiva e que, também, para mim era uma esquina que me custava dobrar, no inicio do meu caminho como Mãe.
Cresci muito desde que sou Mãe. E devo-o ao meu filho mas também a mim. Cada um de nós é, antes de tudo, uma pessoa, um ser humano, sem papel que nos defina mais do que as nossas crenças, valores e atitudes. E, embora a vontade inicial tenha sido essa de desempenhar melhor o papel, foi uma profunda descoberta pessoal, um encontro comigo própria o que a maternidade me trouxe de mais valioso. E de tanto refletir e estudas – e de tão pouco especialista ser – tive (e tenho) sempre muitas dúvidas. Uma era, precisamente, a que o tal artigo levantava e deixava no ar: é melhor ser dedicada, carinhosa, apaixonada, verdadeira, autêntica, empática, envolvida, esforçada e perder a cabeça ( quando me sentia esgotada, cansada, assoberbada, impotente) ou é melhor ser uma mãe mais fria, distante, intolerante, auto-centrada, cheia de regras e rotinas , mais mental e não gritar, não dizer, às vezes, o que não queria, nunca ficar de cabeça quente? A pergunta “Que Mãe quero ser?” devolveu-me a resposta sobre “A pessoa que eu sou”. Levou-me muito longe na busca dessa minha verdade – e de como a expressava. \ As crianças não são complexas, as nossas vidas são. Nós somos complexos, muitas vezes porque somos (ou fomos) feitos de artifícios, impostos por terceiros, que nos fazem viver com o piloto automático, explosivos, reativos, desligados de nós próprios, sem recursos para pedirmos o que queremos de forma pacífica, sem sabermos, muitas vezes, o que queremos, e fazendo a nossa felicidade e bem estar depender dos outros – nomeadamente dos nossos filhos. O que a maternidade me deu foi uma especialização em mim mesma, foi poder crescer como pessoa e, assim, ser melhor mãe. Para mim esta é a verdadeira magia da parentalidade – o seu poder transformador e criador. Gritar não comunica amor, nunca – nem entre adultos, nem entre um adulto e uma criança. Ameaçar ou despejar em cima das nossas crianças – ou de qualquer outra pessoa – desabafos que soem a abandono, culpa ou desespero nunca abona a nosso favor (nem a favor delas). Eu sou uma mãe que grita. Que todos os dias faz o seu possível. Sou uma mãe que grita cada vez menos, e isso faz-me sentir melhor. E faz-me sentir melhor comigo própria e com as minhas emoções. Mais inteira, mais verdadeira, mais em paz. E aqui reside o equívoco do tal texto que incluia os gritos numa maternidade com amor e que paira com muita frequência nas nossas cabeças: é que, sermos mais autênticos, mais verdadeiros não quer dizer ser descontrolados, impulsivos, reativos. Deixarmos o coração assumir o comando dos nossos dias – em vez de regras frias e rotinas desprovidas de paixão – não quer dizer deixarmo-nos ficar para último e depois despejar em cima dos outros os nossos nervos e emoções difíceis de aguentar. Sermos mais dedicados, atentos e levar em conta as necessidades dos nossos filhos, colocar os limites necessários e sustentar os que sentimos ser fulcrais para o seu bem estar, não nos deve fazer sentir nunca no direito de despejar neles as nossas feridas por sarar, as nossas necessidades por atender, a nossa falta de controlo – em forma de berros, ameaças ou de que forma for (embora isso aconteça, está claro e sobretudo a quem está presente e muitas vezes sem turno de substituição!) O controlo, a autoridade maior que podemos exercer é ,no fundo, sobre como viver as emoções, sobre as decisões que tomamos e a vida que (todos os dias) escolhemos viver – e isso também já me pareceu a mim como um bónus que vinha apenas com um feitio mais desapegado, mais frio, e que está, afinal, ao alcance de qualquer um de nós. Na verdade, torna-se uma jóia preciosa quando é descoberto e posto em prática, precisamente, pelos pais de coração quente e amor incondicional, que conversam, que dão colo, que negoceiam e tratam os filhos com igual valor, respeito e responsabilidade, que fazem da parentalidade um assunto sério e ainda assim prazeroso e autêntico, dos pais que não tem todas as respostas, que têm mais dúvidas que certezas, que educam com o coração nas mãos, que fazem figuras tristes, que são humanos e não perfeitos, mas que não vão pelo caminho mais fácil, todos os dias. Crescer em consciência, em respeito (por nós e pelos outros), saber mais profundamente sobre esse iceberg que somos e compreender melhor as nossas emoções e pensamentos , transforma as atitudes e comportamentos que vem à superfície, e esse é o melhor presente que podemos dar – não aos nossos filhos, mas a nós próprias. Chama-se auto-cuidado, chama-se crescer em maturidade. Os berros não são amigos da pedagogia mas também não o são de uma vida pacifica – e os pais mais do que pedagogos, querem-se humanos, e querem-se bons exemplos mais do que perfeitos. Não acredito que o medo eduque alguém, ou tenha benefícios na educação das personalidades a médio, longo prazo. Não acredito que ouvirmos ameaças, sentirmo-nos inseguros, assustados ou desamparados pelas figuras que nos dão proteção, amor e sentido à vida enquanto o mundo é maior do que nós possamos compreender, possa ter qualquer vantagem para o nosso desenvolvimento enquanto crianças – ou adultos. Erraremos muito ainda assim, todos. A vida é tudo menos perfeita e previsível e quem ama sem medida , quem se entrega à autenticidade e se despe da proteção cobarde de regras e preconceitos, de certezas e crenças definitivas , tropeça, claro, mas pode ter a vantagem de se dar conta disso, de se aperceber que não é dono da razão, nem do bom comportamento, que todos temos momentos infelizes, pode pedir desculpa e desculpar-se a si próprio, saber estimar-se e aos que o rodeiam sem almejar ser intocável – pode sair do pedestal de pai, que parece ser apanágio de alguns que gritam e de outros que não gritam mas que nunca estão errados ou se põe em causa – e isto também não ensina nada sobre aprender com os erros, tolerância ou humanidade. Hoje sei, de fonte segura, que alma e paixão não têm de rimar com gritos, ameaças e descontrolo. E enquanto os segundos podem não se conseguir evitar – e está tudo bem – os primeiros querem-se todos os dias e em quantidades generosas nas nossas famílias. Acredito, mesmo, que é mais desses condimentos que todos precisamos para que o mundo se endireite e tome o sentido certo, que é o do Amor – esse sim, o património imaterial mais precioso da humanidade. um abraço mãedful, Mariana 9/15/2019 0 Comments quem tem medo de uma escola nova?De há dois anos para cá, cada início do ano letivo deixo-me levar por uma certa esperança de que há um um ar mais leve e renovado no ambiente das nossas escolas e salas de aula. Que o cheiro a mofo está a sair por janelas que se abrem aos novos tempos, às crianças do presente e sobretudo aos adultos do futuro que, supostamente, estão a formar. Uma notícia de um horário mais equilibrado aqui, outra sobre espaços de ar livre e recreio alargados e melhorados acolá, entre públicas e privadas , umas deixam de ter toque de entrada, outras onde se aplica a metotologia de projeto, umas onde há jornal da escola e clube do ambiente e ainda uma onde cada aluno se serve da sua comida desde que tem 5 anos. Depois há recomendações de psicólogos de toda a Europa sobre o brincar livre e a sua importância para o desenvolvimento de competências fundamentais, e as práticas educativas deixarem de incluir castigos e recompensas.
Fico com esperança. Acredito, por algum tempo, que agora sim é impossível não verem mais o que importa realmente nos tempos que correm, na educação e formação académica das nossas crianças. Porque começa a deixar de ser, sequer, um pensamento “divergente”, de quem acredita na felicidade e bem estar mais do que no sucesso económico e laboral. Para 2020 (sim, estamos em 2019!) as competências chave para o mercado de trabalho, definidas pelo World Economic Forum, incluem: capacidade de resolver problemas complexos, pensamento crítico , criatividade, gestão de equipas, trabalho em quipa, inteligência emocional, capacidade de decisão e negociação e flexibilidade cognitiva! Por isso e afinal, está tudo na mesma, para a maioria de nós, para a esmagadora maioria das crianças portuguesas. Há rigidez e mesas em fila na sala de aula, como no século dezanove; as nossas crianças são objecto passivo de transmissão da matéria que vem no manual, passam horas - muitas horas por dia! - a preencher formularios, aka fichas, iguais para todos, em silêncio (e por vezes trazem mais para preencher em casa!). Decoram coisas que não entendem. Não tem qualquer autonomia na aprendizagem ou espaço para desenvolver interesses pessoais. Exigem que estejam calados, em vez de os ensinarem a comunicar. Não tem forma de treinar competências sociais, na sala ou no recreio uns com os outros - que é onde elas se aprendem! - porque logo estará um olhar policial a vigiar e a decretar a consequências artificais. São obrigados a comer tudo até ao fim na cantina(!) As artes e o pensamento criativo, original e livre tem peso a tender para zero no curriculo. O envolvimento com a comunidade e o desenvolvimento em cada um deles de uma voz ativa, individual e válida não existe. Passado um mês de escola - que deveria ser esse lugar mágico onde todo o potencial de cada um sobresaísse - os olhos não brilham, os sorrisos evoluem de forma inversamente proporcional aos comportamentos desafiantes. Há aulas de música onde a professora grita mais do que as crianças cantam, aulas de ginástica onde quem não pára quieto(!) vai para o banquinho do pensar e as opções extracurrciulares são tudo menos divertidas, entusiasmantes e apetecíveis. Em que futuro laboral estes miúdos portugueses vão ter lugar? Estou-me a lembrar de meia dúzia de empregos onde este ensino os leve mas talvez fiquem para os tais robots , essas criaturas do futuro. Os nossos meninos também são adultos do futuro e esse futuro nós não podemos conhecer, muito menos em épocas em que tudo muda tão rápido. Mas podemos estar mais atentos e lúcidos em relação ao que se prevê, ao que já se faz noutros paises (e em Portugal em exemplos pontuais maravilhosos*!).Podemos estar atentos aos sinais do mundo e das nossas crianças e manter a esperança que talvez no próximo ano letivo, nas metas curriculares, nos objetivos de cada disciplina, estejam lá as competências-chave que são, afinal do Presente. A Escola não pode permanecer no passado. ❥ *se conheces alguma escola que já tenha chegado ao Presente ou até já esteja no Futuro, partilha comigo nos comentários! Vamos dar a conhecer o que de melhor se faz neste país - pode ser que as outras todas que ainda estão no Passado se animem a apanhar o comboio da educação que importa! 8/25/2019 0 Comments ↬uma boa educaçãoEducar “bem” não é, na verdade, educar para o sucesso, o primeiro lugar, com foco na auto confiança , esforço, competitividade, a tirania do “tu consegues” e do empenho. A educação que ora cai no protecionismo exagerado dos perigos ou dificuldades (emocionais incluídas), para que nada “nos atinja” ou nos atira às feras e ignora as nossas necessidades e limites para aprendermos o que “é a vida” (estes dois padrões andam muitas vezes ligados , como compensação um do outro , entre pai e mãe , por exemplo).
Neste “ tabuleiro de jogo” há vítimas e culpados, há quem manda e quem obedece, há inocentes e agressores, sucesso e derrota, orgulho e desilusão, - e há , na idade adulta, depressões, ansiedade, falta de autoconhecimento, desamparo, dependência (seja do que for), agressão - contra os outros ou nós próprios - e autoestimas muito frágeis (embora por vezes disfarçadas de autoconfianças desmedidas que impedem relacionamentos de qualidade em muitas áreas da vida. ) Acredito que uma boa educação é a que se baseia em vermos os nossos filhos exatamente como são - a cada momento. Aquela em que queremos conhecê-los e darmo-nos a conhecer. Não impingir-lhes a nossa concepção do mundo, do sucesso e da derrota. Agrada-me ver cada vez mais sensibilidade para este redefinir do que é sucesso na vida - que é na verdade uma descoberta pessoal , única e ligada aos tempos que nos são dados viver - e os nossos tempos não serão os dos nossos filhos. Uma boa educação é a que os prepara para o “pior” : o pior acaso, o pior encontro, não a que assegura que não vão passar por isso ( até porque nem mesmo os "pais- helicóptero -último modelo" conseguem substituir a vida !) Como vou reagir na perda, no fracasso, na doença, na dificuldade ? Como vou reagir quando for preterido, ficar para trás, perder tudo, ter um conflito, o plano sair furado, conhecer pessoas ou realidades diferentes? Não quero com isto dizer nem que devemos ser preocupados, ansiosos com o futuro ou esperar que a vida dos nossos filhos seja feita de desgraças e desafios duros, nem que os devemos expor ao pior , ao difícil, retirar mimo e suporte emocional para aprenderem “o que é a vida” (esta última perspectiva encontro-a muito presente ainda, uma crença com raízes fundas nos valores vigentes) . Não precisamos de pais ou cuidadores que nos digam onde está o sucesso ou o caminho da realização pessoal - essa é uma jornada individual, muitas vezes solitário e até mutável- nem que nos exponham (de forma deliberada) ao duro, difícil, árduo - para isso está lá a vida, as relações com os outros e os nossos conflitos internos. Precisamos de pais e cuidadores que nos cuidem, amparem, sustentem, acompanhem , sem julgar , avaliar ou salvar. Que partilhem a sua verdade e fragilidade connosco e façam o melhor possível , enquadrado nos seus limites pessoais e nas suas autênticas opções de vida. Sem cobrar e sem aligeirar responsabilidade, com um olho nas possibilidades todas que tragam o melhor para todos e o outro “no que é”, na aceitação da imperfeita realidade com que temos de lidar. Sem medo do “sim é possível” nem do “não, lamento muito”. Educamos com tudo que somos e como vivemos ( não com o que dizemos ou apregoamos!) e acredito que o bem estar com que vamos pela vida - ao longo de todos os seus altos e baixos - será o indicador supremo de termos tido uma “ boa” educação: sabermo-nos amados incondicionalmente, saber que importamos para alguém (não os nossos feitos, conquistas, derrotas, comportamentos mas nós, exatamente como somos). Sentir que confiam em nós, que nos envolvem na sua vida, que a nossa opinião conta, que podemos partilhar sonhos e ideias. Que podemos arriscar, que alguém nos quer ouvir e ver, sem nos avaliar; que temos em alguém um Porto seguro para as nossas emoções e sentimentos. Tudo isto constrói auto-estimas fortes, das que não oscilam com as marés do que nos acontece ou do que nos fazem ou do que fazemos, conseguimos ou não. É a vela segura que nos leva a “bom porto”, mesmo no meio da pior das tempestades - e para mim esse é o propósito de educar seres humanos. ❥ #osuavemilagre #umaboaeducação #mãedfulness |
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December 2021
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o suave milagre | mariana bacelar