Nestes tempos de muito tempo juntos houve laços que se estreitaram entre pais, filhos e irmãos e houve, tal como me parece que a pandemia laçou sobre a sociedade, muita luz sobre zonas de sombra, também nestas mesmas relações familiares.
Cá por casa, começaram a acontecer alguns surtos recorrentes de mau feitio do meu filho mais velho, viroses chatas de implicância com a irmã, resistentes a tratamentos à base de explicações lógicas sobre a diferença de idades, a empatia, o cansaço dos pais, etc. Até que percebi do que precisava o meu filho mais velho: precisava de mimo. Precisava literalmente de doses generosas de beijos, abraços e colo, intercaladas com paciência, tolerância e atenção às suas necessidades. Perco-me, por vezes, nesse equilíbrio entre permitir o seu desconfinamento da asa materna e manter-me disponível, cuidadora e vigilante pelas suas necessidades emocionais. E acredito que, por uma razão ou por outro, acontecerá a muitas de nós. Seja porque um irmão mais novo nos leva a atenção, a energia e os braços (literalmente!), seja porque os vemos a crescer e ser bem independentes ou porque nos disseram que "mimo a mais não é bom", que "mimar demais os filhos é prejudicial", que "crianças mimadas são mal educadas e adultos que nunca crescem!" Eu tenho outra teoria: mimo, esse da ternura e do afeto, dos respeito pela integridade e necessidades ( não digo desejos e vontades e pedidos, digo necessidades), nunca é demais. Não há tal coisa como colo a mais, interação a mais, beijos a mais, paciência a mais, meiguice a mais, respeito pelas emoções e conversa a mais - podemos não estar, é certo, sempre disponíveis física ou emocionalmente para o dar aos nosso filhos mas que não se retirem de propósito por achar que fazem mal ou deseducam. Os limites e os "nãos" de que tanto se falam, só educam quando nos saem do coração, da valorização do que consideramos ser no seu melhor interesse, quando cá de dentro há um alerta de perigo, de instinto de proteção e cuidado e de os fazer crescer com dignidade, caráter, saúde e valores que para nós são quase essenciais à vida. O mimo "maléfico", vem de quando tentamos compensar falta de presença com coisas, falta de carinho com presentes, falta de atenção e tempo com eles com recompensas materiais, ou quando serve de moeda de troca para resultados, comportamentos - aqui sim estaremos a cavar buracos negros na autoestima dos nossos filhos, e a ensinar-lhes a procurar fora o que só podemos encontrar dentro de nós. Também podemos pensar naquelas formas de desresponsabilizar os filhos, de nãos lhe permitir grande autonomia ou opinião, de não lhes dar poder de decisão nem liberdade, espaço para fazerem o seu próprio caminho, cair e levantar, errar, escolher e sofrer as consequências, como mimo, mas isso só mima os próprios pais e mães que se recusam a ver os filhos como seres independentes , separados de si, e com uma vida própria. Isso é apenas controlo e ansiedade e não afeto. Os adultos mais “mimados” que conheço, que, independentemente da idade que têm, fazem birras, que levam tudo a mal, que parecem exigir aos outros e a vida que se curve perante eles, que lidam mal com a rejeição, a perda e os contratempos, que precisam de mostrar o seu valor com arrogância e exibicionismo foram por norma crianças muito sós, muitas vezes batidos ou maltratados pelos adultos, inseguros na sua relação com eles, desde cedo habituados a mostrar o que valem, com muitas regras e medo durante o seu crescimento. É ou não? Sempre que demonstramos atitudes infantis como adultos, elas vêm da falta do tal mimo ( de atenção, reconhecimento, validação, afeto) que podemos ter tido ao crescer, nunca do contrário. O mimo como demonstração de um amor incondicional será sempre a cura (e a vacina!) para surtos de baixa autoestima e problemas sociais e mentais. E não impede nunca de deixarmos os nossos filhos crescer, pelo contrário: ajuda-os a crescer seguros, livres e responsavéis.♡ Um abraço amigo, Mariana Este post é um resumo do episódio da semana do podcast #cócegasnocoração, que podes ouvir aqui em baixo ou na tua plataforma de podcasts habitual.
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December 2021
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o suave milagre | mariana bacelar