Aqui há uns dias, a propósito de algo que já não me recordo, a Helena , 4 anos e meio, disse me que tinha esperança . Não, não foi a propósito da pandemia nem das eleições americanas. Eu própria não entendi logo mas ela explicou: "Eu tenho esperança e por isso vou esperar" (seria por algo que eu não lhe podia dar naquele momento.) Tão bonito não é? Ligar a palavra esperança a paciência, a esperar, não só no sentido de acreditar em algo, ou que algo vai acontecer, mas associar isso a uma intrínseca capacidade de aguentar um pouco, de dar tempo ao tempo, de sossegar, aceitar o tempo intermédio. Fiquei a pensar se a ansiedade em que vivemos, a rapidez com que os dias correm, a lufa lufa incansável em que nós e as nossas crianças vivemos, a correr, sem tempo, ou com o tempo contado, não nos torna meio desesperados , sem paciencia , porque isto está tudo ligado. E, ao mesmo tempo, se o facto de sermos pessoas com esperança é o que nos leva a ter alguma calma a viver as coisas, não entrar em pânico e no medo tão facilmente. Uma lição completa de mindfulness - ou de como navegar o nosso barco em tempos incertos - da pequenina guru cá de casa. Lembrei-me logo de uma outra palavra que o João re- significou para sempre, no meu dicionário pessoal. Teria também uns 4 anos quando, a propósito de uma mistura de sabores um pouco duvidosa (para o meu gosto tradicional , claro) que estava a fazer, me disse que era mais experiente do que eu. Eu tinha 36 anos , não estava a perceber a lógica! Mas ele explicou: "Então, se experimento mais coisas do que tu, se gosto mais de experimentar sou mais experiente. " Irrefutável, certo? Até hoje uso esta história nos workshops com os pais e educadores, como um ponto de partida para a reflexão acerca de crescermos não ser realmente igual a termos experiência, acerca de deixarmos os nossos filhos crescer de verdade ou educarmos eternas crianças quando os privamos de arriscar, de inovar, de inventar, hiperprotegidos e controlados, sem grande autonomia ou responsabilidade pessoal. Quando educamos a achar que temos de ter sempre as respostas prontas, para tudo. Mas crescer, na verdade, e não é algo que a acontece numa redoma, numa bolha protegida. Ser adulto não é viver fechado sem experimentar o mundo, e fazemos muito isso às nossas crianças, até bem tarde, nos tempos que correm. Curiosamente, depois, esperamos que cheguem a uma determinada idade e sejam - como diria o meu João - "experientes" e sensatos. Que lição de parentalidade consciente esta, dada pelo meu guru de palmo e meio. Temos muito a ganhar quando nos oferecem uma perspectiva nova sobre as coisas. E as nossas crianças fazem-no a toda a hora se nós não desperdiçamos essas oportunidades e as deixarmos acontecer, sem os corrigirmos de imediato, sem explicar tudo e ouvir, sem julgamentos, a sua explicação e visão das coisas. As nossas crianças podem ter um cérebro imaturo, pouca experiência em algumas áreas da vida ou não saber pronunciar bem algumas palavras, mas têm uma sabedoria inata de quem veio depois, e negar isso a toda a hora é desaproveitar um manancial de novas ideias e ideais, novas possibilidades de vivermos melhor e sermos melhores seres humanos. Cabe-nos decidir, como adultos cuidadores do presente, se queremos educar os nossos filhos sem pensamento crítico, sem originalidade em ver as questões antigas, sem acrescentarem valor a esse mundo futuro onde nós, já velhos, vamos também viver mas que caberá a eles cuidar. Um abraço, Mariana Este post é baseado no episódio desta semana dopodcast Cócegas no Coração. Podes ouvi-lo no link aqui em em baixo, no spotify, apple podcasts ou castbox
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December 2021
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o suave milagre | mariana bacelar