Uma destas manhãs de chuva, os meus dois filhos entretinham-se com um videojogo de Tenis, entre risos e celebrações. Claro que, passado pouco tempo, os conflitos e choros, e uma competição desenfreada já estavam a levar a melhor na manhã nublada de férias grandes.
Eu tinha de ir às compras do costume , e relembrando uma conversa recente que tinha tido com o João sobre campeonatos e competições e os respectivos prémios, antes de sair disse-lhes: "Vou às compras. Fiquem a jogar sossegados que eu, quando voltar vou trazer comigo um prémio para quem... PERDER!" Os olhinhos da Helena abriram-se de espanto, e depois o sorriso de quem encontrou o conforto implícito na minha jogada invertida. Na parentalidade consciente não há lugar a prémios nem recompensas , nunca os utilizei cá em casa como moeda de troca nem de resultados nem de comportamentos e acredito que devíamos questionar mais a sua prática no resto dos contextos escolar, empresarial, desportivo, em que nos movemos como crianças e depois adultos. Na verdade, colocarmos o foco numa recompensa forçada e externa à situação só nos faz distrair de quem somos, fazer coisas que não queremos ou com as quais não concordamos, correr sem ser por gosto e deixar um lastro de pouco significado nos nossos dias. Quando queremos fazer exatamente o contrário, cheios de boas intenções, estragamos a motivação intrínseca dos nossos filhos e a sua construção assente em valores pessoais e num forte carácter quando os manipulamos com o acenar do prémio. Há sempre um prémio inerente a ganhar, a chegar ao fim a conseguir, ou simplesmente a fazer algo que está conectado com quem somos, a aprender, a descobrir, mas está dentro de nós e precisa de ser alcançado sem interferência externa. E tirar prazer de um processo sem ter o foco no resultado faz-nos ser mais calmos, mais felizes, e paradoxalmente melhores no que fazemos. Como eu disse a Helena e ao João depois “então mas quem ganha já está feliz por ganhar certo, parece me que faz mais sentido dar algo a quem perder para o consolar! “ Eu não fiquei para ver , mas contou-me quem ficou que o jogo decorreu de forma tranquila, com empenho e entusiasmo, sem raivas nem brigas. Porque quando tiramos o prémio é só isso que sai da equação: o stress, a ansiedade de desempenho, sentirmos o nosso valor dependente de ser melhor ou atingir mais. Não perdemos alegria, nem motivação, nem até um dar tudo por tudo para ganhar, - se estamos de livre vontade e alinhados com o que estamos a fazer - mas fazemo-lo de um sítio mais tranquilo, mais alegre, e reagimos muito melhor quando perdemos. Eu sei que isto mexe com crenças enraizadas na nossa forma de estar e de viver em sociedade , eu sei que a competitividade está na ordem do dia mas não é esse o camino das auto-estima boas, da boa saúde mental, e não é por aí o caminho do bem estar nem mesmo do sucesso de crianças ou adultos. Um abraço, Mariana Este post é o resumo do episódio do Cócegas no Coração desta semana, que podes ouvir no link abaixo ou na tua plataforma de podcasts preferida.
0 Comments
Aqui há uns dias, a propósito de algo que já não me recordo, a Helena , 4 anos e meio, disse me que tinha esperança . Não, não foi a propósito da pandemia nem das eleições americanas. Eu própria não entendi logo mas ela explicou: "Eu tenho esperança e por isso vou esperar" (seria por algo que eu não lhe podia dar naquele momento.) Tão bonito não é? Ligar a palavra esperança a paciência, a esperar, não só no sentido de acreditar em algo, ou que algo vai acontecer, mas associar isso a uma intrínseca capacidade de aguentar um pouco, de dar tempo ao tempo, de sossegar, aceitar o tempo intermédio. Fiquei a pensar se a ansiedade em que vivemos, a rapidez com que os dias correm, a lufa lufa incansável em que nós e as nossas crianças vivemos, a correr, sem tempo, ou com o tempo contado, não nos torna meio desesperados , sem paciencia , porque isto está tudo ligado. E, ao mesmo tempo, se o facto de sermos pessoas com esperança é o que nos leva a ter alguma calma a viver as coisas, não entrar em pânico e no medo tão facilmente. Uma lição completa de mindfulness - ou de como navegar o nosso barco em tempos incertos - da pequenina guru cá de casa. Lembrei-me logo de uma outra palavra que o João re- significou para sempre, no meu dicionário pessoal. Teria também uns 4 anos quando, a propósito de uma mistura de sabores um pouco duvidosa (para o meu gosto tradicional , claro) que estava a fazer, me disse que era mais experiente do que eu. Eu tinha 36 anos , não estava a perceber a lógica! Mas ele explicou: "Então, se experimento mais coisas do que tu, se gosto mais de experimentar sou mais experiente. " Irrefutável, certo? Até hoje uso esta história nos workshops com os pais e educadores, como um ponto de partida para a reflexão acerca de crescermos não ser realmente igual a termos experiência, acerca de deixarmos os nossos filhos crescer de verdade ou educarmos eternas crianças quando os privamos de arriscar, de inovar, de inventar, hiperprotegidos e controlados, sem grande autonomia ou responsabilidade pessoal. Quando educamos a achar que temos de ter sempre as respostas prontas, para tudo. Mas crescer, na verdade, e não é algo que a acontece numa redoma, numa bolha protegida. Ser adulto não é viver fechado sem experimentar o mundo, e fazemos muito isso às nossas crianças, até bem tarde, nos tempos que correm. Curiosamente, depois, esperamos que cheguem a uma determinada idade e sejam - como diria o meu João - "experientes" e sensatos. Que lição de parentalidade consciente esta, dada pelo meu guru de palmo e meio. Temos muito a ganhar quando nos oferecem uma perspectiva nova sobre as coisas. E as nossas crianças fazem-no a toda a hora se nós não desperdiçamos essas oportunidades e as deixarmos acontecer, sem os corrigirmos de imediato, sem explicar tudo e ouvir, sem julgamentos, a sua explicação e visão das coisas. As nossas crianças podem ter um cérebro imaturo, pouca experiência em algumas áreas da vida ou não saber pronunciar bem algumas palavras, mas têm uma sabedoria inata de quem veio depois, e negar isso a toda a hora é desaproveitar um manancial de novas ideias e ideais, novas possibilidades de vivermos melhor e sermos melhores seres humanos. Cabe-nos decidir, como adultos cuidadores do presente, se queremos educar os nossos filhos sem pensamento crítico, sem originalidade em ver as questões antigas, sem acrescentarem valor a esse mundo futuro onde nós, já velhos, vamos também viver mas que caberá a eles cuidar. Um abraço, Mariana Este post é baseado no episódio desta semana dopodcast Cócegas no Coração. Podes ouvi-lo no link aqui em em baixo, no spotify, apple podcasts ou castbox
Nestes tempos de muito tempo juntos houve laços que se estreitaram entre pais, filhos e irmãos e houve, tal como me parece que a pandemia laçou sobre a sociedade, muita luz sobre zonas de sombra, também nestas mesmas relações familiares.
Cá por casa, começaram a acontecer alguns surtos recorrentes de mau feitio do meu filho mais velho, viroses chatas de implicância com a irmã, resistentes a tratamentos à base de explicações lógicas sobre a diferença de idades, a empatia, o cansaço dos pais, etc. Até que percebi do que precisava o meu filho mais velho: precisava de mimo. Precisava literalmente de doses generosas de beijos, abraços e colo, intercaladas com paciência, tolerância e atenção às suas necessidades. Perco-me, por vezes, nesse equilíbrio entre permitir o seu desconfinamento da asa materna e manter-me disponível, cuidadora e vigilante pelas suas necessidades emocionais. E acredito que, por uma razão ou por outro, acontecerá a muitas de nós. Seja porque um irmão mais novo nos leva a atenção, a energia e os braços (literalmente!), seja porque os vemos a crescer e ser bem independentes ou porque nos disseram que "mimo a mais não é bom", que "mimar demais os filhos é prejudicial", que "crianças mimadas são mal educadas e adultos que nunca crescem!" Eu tenho outra teoria: mimo, esse da ternura e do afeto, dos respeito pela integridade e necessidades ( não digo desejos e vontades e pedidos, digo necessidades), nunca é demais. Não há tal coisa como colo a mais, interação a mais, beijos a mais, paciência a mais, meiguice a mais, respeito pelas emoções e conversa a mais - podemos não estar, é certo, sempre disponíveis física ou emocionalmente para o dar aos nosso filhos mas que não se retirem de propósito por achar que fazem mal ou deseducam. Os limites e os "nãos" de que tanto se falam, só educam quando nos saem do coração, da valorização do que consideramos ser no seu melhor interesse, quando cá de dentro há um alerta de perigo, de instinto de proteção e cuidado e de os fazer crescer com dignidade, caráter, saúde e valores que para nós são quase essenciais à vida. O mimo "maléfico", vem de quando tentamos compensar falta de presença com coisas, falta de carinho com presentes, falta de atenção e tempo com eles com recompensas materiais, ou quando serve de moeda de troca para resultados, comportamentos - aqui sim estaremos a cavar buracos negros na autoestima dos nossos filhos, e a ensinar-lhes a procurar fora o que só podemos encontrar dentro de nós. Também podemos pensar naquelas formas de desresponsabilizar os filhos, de nãos lhe permitir grande autonomia ou opinião, de não lhes dar poder de decisão nem liberdade, espaço para fazerem o seu próprio caminho, cair e levantar, errar, escolher e sofrer as consequências, como mimo, mas isso só mima os próprios pais e mães que se recusam a ver os filhos como seres independentes , separados de si, e com uma vida própria. Isso é apenas controlo e ansiedade e não afeto. Os adultos mais “mimados” que conheço, que, independentemente da idade que têm, fazem birras, que levam tudo a mal, que parecem exigir aos outros e a vida que se curve perante eles, que lidam mal com a rejeição, a perda e os contratempos, que precisam de mostrar o seu valor com arrogância e exibicionismo foram por norma crianças muito sós, muitas vezes batidos ou maltratados pelos adultos, inseguros na sua relação com eles, desde cedo habituados a mostrar o que valem, com muitas regras e medo durante o seu crescimento. É ou não? Sempre que demonstramos atitudes infantis como adultos, elas vêm da falta do tal mimo ( de atenção, reconhecimento, validação, afeto) que podemos ter tido ao crescer, nunca do contrário. O mimo como demonstração de um amor incondicional será sempre a cura (e a vacina!) para surtos de baixa autoestima e problemas sociais e mentais. E não impede nunca de deixarmos os nossos filhos crescer, pelo contrário: ajuda-os a crescer seguros, livres e responsavéis.♡ Um abraço amigo, Mariana Este post é um resumo do episódio da semana do podcast #cócegasnocoração, que podes ouvir aqui em baixo ou na tua plataforma de podcasts habitual. Na mudança para a casa nova , as plantas vieram connosco - as de interior, e os vasos bem intencionados da varanda do apartamento e os cheiros: lavanda e hortelã. E é acerca desta última que hoje vos trago uma reflexão poderosa sobre parentalidade. Já na casa nova, com o passar das semanas a hortelã definhava. Cada vez mais seca, sem novos rebentos, sem crescer. E o que fazia eu? Regava, regava para que não he faltasse àgua, tirava ervas daninhas que cresciam à volta, e nada parecia resultar. Cansei-me a cuidar dela, chegou a um dia que lhe roguei eu própria umas pragas e a dei como perdida. "Olha a alfazema" - apeteceu-me dizer - "em flor e tão aromática!" Ridículo, eu sei, mas quantas vezes fazemos isto com as nossas crianças e não caímos em nós? Quando se fez luz e mudei o vaso para um local menos exposto ao sol a mudança aconteceu. Quase da noite para o dia. Sem esforço nenhum, as ervas daninhas não voltaram e as folhas voltaram a crescer, viçosas e cheirosas. Esta é uma lição preciosa para nós pais e educadores - e até lideres, políticos ou chefias: o contexto é quase tudo. Quando a envolvente é a certa o resto flui. E as pessoas, as crianças tal como as plantas tem as suas “condições ideias”, tem as suas necessidades especificas. Não nos cabe a nós dizer quais são. O nosso principal papel como pais e educadores é entender isso. É perceber como podemos cuidar das nossas crianças conforme a sua natureza. Será que uns precisam mais de novidade e experiências diferentes e outros de rotinas e padrões? Será que uns aprendem melhor em movimento e outros em silêncio e sossego? Será que uma boa alimentação, as horas de sono adequadas e uma família presente fazem mais pelo bem estar do que notas, regras e sermões? Será que para uns é importante ter poder de decisão, liderar e falar e para outros é mais confortável observar? Quando o contexto é o adequado, e adaptado à natureza das necessidades dos nossos alunos e filhos, todo o cuidado é muito mais fácil, toda a educação é benéfica, eficaz e duradoura. Importa só não querermos ter rosas quando a vida nos deu margaridas, ver a diversidade do jardim com bons olhos, não fazer comparações tolas e conhecer a espécie que temos. Assim torna-se muito mais fácil jardinar e educar e certamente todos encontrarão o seu lugar ao sol ( ou às sombra!) este post é baseado no podcast #cócegasnocoração cujo episódio completo podes ouvir no link aqui em baixo ou aqui.
Nestes últimos meses em que passamos tanto tempo em casa uns com os outros, assisti várias vezes ao João Maria, que tem 10, a corrigir a Helena, que tem 4, em algumas conversas que mantinham. Ele ficava exasperado com alguns comentários da irmã, que não eram senão apropriados para a sua idade, mas que revelavam a imaturidade do seu cérebro a desenvolver-se um pouco atrás do dele, também imaturo.
Então procurei explicar-lhe o que muitos pais e educadores se calhar também não sabem, ou na verdade, podemos saber intelectualmente mas não respeitamos nem incorporamos na forma como nos relacionamos e pensamos a educação dos nossos filhos. Conhecemos bem o desenvolvimento fisico - o que se espera, o que acontece primeiro e depois - é nos útil para não criar ansiedade ou pressão tonta : por exemplo, o processo da dentição, do crescimento, do aparecimento de pêlos ou mudança de voz, como não esperamos que uma criança corra antes de andar, ou utilize a faca e o garfo antes de manejar os blocos de madeira, também ha um calendário cerebral / emocional e na verdade parece-me que, às vezes, "educar" é contrariar, forçar esse calendário e esperar algo completamente impossível das nossas crianças. Uma das estruturas cerebrais que mais tardiamente se desenvolve é o córtex pré-frontal, uma área que a nossa espécie tem mais desenvolvida, é das últimas a amadurecer e a se tornar apta, completa. Estima-se que esteja em maturação até aos 25 ( sim, eu percebo o suspiro!) e é extremamente influenciada pela experiência e pelo meio ambiente e contexto. É esta a área responsável por planeamento e antecipação, pensamento sequencial, lógica , empatia e auto- controlo e inibição de impulsos o que explica porque é que a nossa vida de cuidadores e pais de crianças pequeninas é tantas vezes tão difícil: quando, por exemplo, os queremos fazer entender que contar as tartarugas da tshir não é importante agora porque temos de chegar a escola daqui a meia hora ou que é preciso aguardar para comer o gelado depois do almoço, ou pedir-lhe para se acalmar-se quando se sente muito nervoso só porque estamos a dizer para o fazer, ou partilhar o seu brinquedo preferido quando gosta tanto dele, ou mesmo pedir para aprender sequências abstratas de números ou grafismos, pintar dentro das linhas, saber que julho vem antes de setembro, muitas vezes a crianças de 3 e 4 anos cujo cérebro simplesmente não tem as estruturas para entender isso! Este sistema de controlo depende do tempo e também muito mais da aprendizagem do que o sistema emocional, é dependente da experiências que vamos tendo,. Ou seja, começamos a tomar boas decisões por poder ir tomando não tão boas decisões e depois conseguir corrigi-las. Conseguimos ser um adulto que prevê e planeia com eficácia, fazendo planos, implementando-os e vendo os resultados, enquanto crescemos. Nós pais e educadores, podemos influenciar, servir de exemplo mas sobretudo permitir que este sistema pré-frontal entre em ação, para se ir fortalecendo e de nada vale procurar incutir à força capacidades e comportamentos que simplesmente a criança ainda não consegue ter. Há outro lado importante destas descobertas da neurociência: é percebermos que o cérebro da criança pequena não é "menos capacitado" ou "subdesenvolvido", pelo contrário, é riquíssimo em alguns tipos de pensamento e estruturas que perdemos depois enquanto adultos e que interessa respeitar e que permitem a imaginação, o brincar livre, a criatividade, o pensamento divergente, uma boa e rápida reação a estímulos, a atenção dispersa e a aprendizagem. É o desenvolvimento pleno destas capacidades que vão tornar os nossos filhos em jovens e adultos mais espertos, inteligentes e capazes. Ou seja, a primeira infância, parece estar desenhada para ser um período de inovação e mudança, importantíssimo de respeitar e permitir, para depois desempenharmos bem as funções mais cognitivas e executivas à medida que crescemos. Educar é então antes de tudo lembrarmo-nos que temos efetivamente cérebros diferentes, preparados para ver e experienciar o mundo de formas diferente e o nosso ensino poderia ser muito mais efetivo se fosse de encontro às reais e maravilhosas capacidades das nossas crianças. Só temos a ganhar permitindo a sua independência, autonomia e desenvolvimento no que não traz perigo e sob a nossa supervisão, claro e lidando com amor e paciência com os comportamentos que não são mais do que apropriados e reveladores de um desenvolvimento normal. Um abraço amigo, Mariana Este post é baseado no episódio do podcast Cócegas no Coração que podes ouvir na íntegra no link abaixo ou na tua app de podcasts habitual. Ter uma auto-estima saudável e forte é gostar de nós exatamente como somos, sem termos de criar uma máscara ou falsa personagem para lidar com os outros. É sentir que temos sempre valor, independentemente do que fazemos ou atingimos, ou temos. É sabermos-nos vistos e queridos sem condição prévia, por essas pessoas primeiras que nos estruturam o mundo, como pais, avós, família ou cuidadores do inicio da nossa vida. Outras pessoas podem contribuir, depois, para fortalecer a nossa auto-estima, mas acredito que esse inicial contexto e "mapa-mundo" que temos ao nascer ou até antes, sobre quem somos e como é ser-se humano, é importantíssimo. Uma distinção também importante tem a ver com os conceitos de auto-estima e autoconfiança, muitas vezes confundidos. A confiança ( no mundo, nos outros e em nós próprios ) é, com certeza, uma faceta da auto-estima e trabalha-se permitindo a responsabilidade pessoal, a autonomia e independência, bem com fornecendo o suporte emocional sem julgamentos, ou críticas e rótulos. Mas ter uma forte auto-confiança não quer dizer ter uma boa auto-estima sobretudo se essa auto-confiança é adquirida às custas de elogios, recompensas e mostras de amor condicional ( se as tuas palavras ou atitudes comunicam algo como “gosto mais de ti se...”, “mereces mais se...quando...”.) e isto é exatamente o contrário de trabalhar a auto-estima. Uma forte auto-estima é um garante de uma boa saúde mental, ao longo da vida, de se conseguir construir relações mais pacíficas e respeitosas, de não se ser agressor nem vítima , de se ser emocionalmente resiliente, de nos conhecermos melhor e não termos medo de fazer as escolhas que nos parecem certas, sem precisar da aprovação dos outros e também de se ter motivação para fazer o próprio caminho. Nascemos inteiros e pleno, com uma semente de auto-estima codificada para se desenvolver, por isso quando me perguntam : “ como sei se o meu filho tem uma boa auto-estima, eu respondo com outra pergunta: "o que tens feito para a manter ou, pelo menos, o que tem feito para não a estragar?" Podemos ter alguns indícios de que estamos no “ bom caminho “ quando as nossas crianças mostram as suas emoções e exprimem os seus sentimentos face às diversas situações, arriscam, exploram e dão a sua opinião. Se podem ter o seu jeito próprio, único e sobretudo “imperfeito”, porque , repito, ter uma boa auto-estima não é ser muito confiante ou extrovertido, por exemplo, é sim, sentirmo-nos nos bem na nossa pele e no nosso jeito de ser. Mas reflexão mais importante é sobre como é que nós, pais e educadores, influenciamos o seu saudável desenvolvimento nas nossas crianças. Aqui tens uma espécie de quizz,* onde, podes ficar a saber como estás a contribuir para a auto-estima das tuas crianças. * ou, se preferires, ouve o episódio completo do #podcastcocegasnocoracao, para explorares mais este assunto - acesso direto mesmo aqui em baixo ⇟ Um abraço amigo, Mariana Sim, eu sei que há aquele companheiro que não te traz a leveza que o teu fim de dia pede tanto, ou aquele amor que já não te acende a paixão, há aquele pai que em vez do colo que tanto precisas só te deu lições de moral, aquela mãe que em vez de trazer a paz ao teu mundo já virado do avesso, o deixa num vendaval de emoções , aquele irmão que em vez de te ouvir os teus desabafos sofridos , passa o telefonema a falar dos seus.
Eu sei que há aquela amiga que mais parece estar preocupada em representar o papel perfeito em vez de se partilhar em autenticidade, que muitas vezes os teus filhos não correspondem na medida direta dos esforços que por eles fazes, e que aquele colega de trabalho ou chefia não te dão o reconhecimento que mereces. Eu sei. Mesmo que os personagens estejam trocados, os sentimentos são mais ou menos certeiros em alguns momentos da nossa vida. Algo que nos falta na relação com o outro. Algo que nos faria tanto bem, que nos seria de tanto auxílio, que contribuiria imenso para o nosso bem estar. Algo de que nos queixamos aos outros, ou só a nós próprios, uma vida inteira, às vezes. Pensa outra vez nisso que te falta no outro, seja quem for, o que for, recorrente.E resolve isso de uma vez dentro de ti. Porque basta assumir o compromisso, selado num autoabraço sincero, que a partir de hoje não te voltas a falhar a ti próprio, nunca mais. Que tudo que precisas serás tu a providenciar, a ti e ao [ teu ] mundo: Boas perguntas, mais riso e leveza, paixão e paz no coração, auto-estima e palavras de coragem, colo e mimo [ao corpo e espírito], reconhecimento e sensação de dever cumprido, limites colocados com serenidade [ ou nem tanto ], descanso e confiança em boas doses. Sem medida e sem cobrar, assume esses papéis que esperas ver no outro, vai buscar dentro de ti e espalha à tua volta, o que tanto precisas de receber, e muitas coisas acontecem a partir daí: algumas pessoas desaparecem, outras deixam de importar tanto, outras transformam-se aos nossos olhos e [ com um bocadinho de sorte ] outras passam a dar-nos tudo o que sempre desejamos. - ❥mariana #idecide #myvibes #creativity #imperfections #lifegoals 6/12/2020 0 Comments Não existem "maus comportamentos"Na corrente comportamentalista - forma que está muito muito enraizada em nós, na pedagogia, psicologia e educação e que está na base de nos relacionarmos uns com os outros, com as nossas crianças e mesmo entre adultos - o comportamento é o que importa, é o que se vê, é o que nos diz quem a pessoa é; é pelo comportamento que percebemos o que tem de ser educado, moldado, ensinado, para corresponder ao certo. Um comportamento errado é para ser corrigido, um comportamento mau é um sinal de ser "mal educada", o comportamento fala por nós. Na Parentalidade Consciente - tal como já em correntes da psicologia e pedagogia atual e , tal como comprova a neurociência e investigação recente acreditamos em coisas um bocadinho diferentes: se é verdade que o comportamento nos dá pistas sobre como estamos, ele não define quem somos e a interpretação mais acertada não é: “porta-se mal quem é mal educado”, mas sim “porta-se mal quem se está a sentir mal.”. Costumo usar a metáfora do iceberg: A parte visível de um iceberg, por vezes é bem grande e impressionante - como algumas birras dos nossos fihos! - mas não deixa de ser nunca apenas uma parte e a menor desse iceberg. Há sempre uma parte bem maior e submersa, invisível ao nosso olhar e que comanda sempre os movimentos dessa parte visível. Então o que importa na verdade, é chegar aí, a esse bloco abaixo da linha do visivel e que na verdade comanda o que fazemos a toda a hora. E o que há aí? Há muitas coisas diferentes: há pensamentos e emoções, flutuações hormonais, desejos, há necessidades, há os nossos limites pessoais, há crenças e juízos de valor, há preconceitos e mapas do mundo que nos rodeia, conforme a nossa idade, e desenvolvimento intelectual, emocional e social. No fundo, o que importa pensar é que todo o comportamento - dos adultos e das crianças, dos pais e dos filhos - reflete esse mundo interior e nos dá pistas sobre o que se está a passar dentro de nós, ou deles. Se conseguirmos chegar aí e entendermos a razão do comportamento, deixamos de o ver como mau ou bom - embora possa ser mais ou menos desejável para nós ou em determinada situação - e passamos a percebe-lo como um indicador de algo que a criança está a sentir, a pensar, ou a precisar. Então, o que podemos fazer quando importa que determinado comportamento se altere ou queremos percebe-lo ? Ser um bom pai não é ser adivinho, é ser um bom detetive. Ou seja não é suposto termos de antemão todas as respostas, importa é conseguirmos fazer as boas perguntas* para percebermos o que se está a passar na tal parte que não se vê. Porque quem se sente bem, porta-se bem e a nossa função enquanto educador e cuidador é procurar que a nossa criança esteja bem. Nesta perspectiva não comportamentslosta da parentalidade acaba por haver pouco lugar para regras rígidas ou rotinas impostas ou até para consequências , castigos ou recompensas. Optamos antes por pôr em prática aquela frase famosa de " O Principezinho" tão lida e partilhada, mas tão pouco posta em prática: “o essencial é invisível aos olhos, só vemos bem com o coração”. Assim, na próxima birra mesmo no meio do supermercado ou na casa dos avós, lembrem-se de parar um minuto e procurar antes de mais a pergunta: o que estará a acontecer que eu não vejo? Aceitam o desafio de ver os vossos filhos e crianças mais com o coração? Um abraço amigo, Mariana *exemplos práticos e mais conteúdosneste episódio do podcast #cócegasnocoração que podes ouvir, na íntegra aqui em baixo 5/17/2020 0 Comments Uma viagem pela AutenticidadeO percurso pela Parentalidade Consciente não nos torna falsos ou pouco naturais, como muitas vezes ouço como critica a desenvolvermos competências parentais. Não posso falar por outras correntes, mas a parentalidade consciente - pelo menos na minha ótica e a que procuro desenvolver - tem a ver com aceitarmos o convite das nossas crianças para aprender com eles, utilizar os desafios que nos trazem, aproveitarmos os gatilhos que eles accionam em nós para fazermos o nosso crescimento, para nos conhecermos melhor, percebermos melhor quem somos bem cá dentro, para conseguirmos largar padrões automáticos que nos foram incutidos, que nos são habituais mas não naturais: são caminhos que foram ficando gravados pelo exemplo, pelo hábito, por vermos fazer ou nos fazerem e que muitas vezes até nos causam uma certa dissonância intelectual ou emocional - algo não está realmente alinhado com quem somos. Quando aprofundamos o caminho da parentalidade consciente aprendemos a respeitar mais a nossa intuição e instinto mas isto não significa ser reativo, antes aprendemos a agir com mais intenção e propósito, aprendemos a largar alguns comportamentos e atitudes só porque nos disseram que é assim, que todas as mães são assim e a descobrir aquilo em que acreditamos mesmo e definirmos, com responsabilidade, como queremos aparecer para os nossos filhos todos os dias, e isso é um mergulho no mais autentico de nós, na nossa verdade, Com muitas dúvidas e hesitações e questionamento? Sem dúvida! Mas assim são os melhores pais, mães e líderes. Ninguém que sabe tudo e nunca se engana e tem certezas de tudo pode ser levado a sério. Ninguém que não se engana, não comete lapsos, vai abaixo, é uma pessoa de verdade - e a parentalidade consciente convida a tirarmos essa máscara de "mãe toda poderosa" e a relacionarmos a partir da verdade com os nossos filhos. E isto sim, é muito poderoso. Este post é um resumo inspirado neste episódio do #podcastcocegasnocoração que podes ouvir, na íntegra aqui em baixo. Um abraço amigo, Mariana 5 princípios parentalidade ConscienteO que significa o Igual Valor, em Parentalidade Consciente? O Igual Valor convida-nos a olhar as nossas crianças como seres humanos exatamente com o mesmo valor do que os adultos. Tratamos as crianças com igual valor quando as tratamos com dignidade , quando nos relacionamos com elas com o respeito que o fazemos com qualquer outra pessoa. É um conceito um tanto revolucionário, é verdade, porque o igual valor não está presente em tantas outras relações que temos entre adultos, como é fácil tratar com menos valor alguém porque é de um género diferente, de nacionalidade diferente, tem menos capacidades, competências, menos idade, menos dinheiro ou poder. Ao conseguirmos, de forma concreta, trazer o Igual Valor para a família, e coloca-lo em prática com as nossas crianças, adolescentes, jovens estamos a formar seres humanos que o interiorizarão, para a sua vida adulta seja para o praticar com os outros e não aceitar que não seja praticado com eles. Praticar o Igual valor não é ser permissivo - só que estamos tão habituados a uma parentalidade tradicional em que se considera que as crianças têm menos valor do que os adultos e baseada no autoritarismo ( ouve aqui o podcast sobre AUTORIDADE ) e no "quem manda aqui sou eu" e na premissa errada de que a criança não sabe nada, não tem noção de nada e não tem quereres, que quando nos falam em atender às necessidades dos nossos filhos, não ferir a sua a integridade na forma como nos relacionamos, ter em conta as suas emoções e os seus limites pessoais, ouvir as suas opiniões e desejos, e permitir a sua responsabilidade pessoal confundimos isto com ser permissivo, e não há nada mais errado. Nos limites que cada um de nós, como pai e mãe, considera serem para o maior bem da criança, o maior bem de todos, que estão mesmo alinhados connosco e vem da nossa verdade podemos e devemos ser firmes e até intransigentes. Isso não impede de os colocar, comunicar de forma compassiva e honesta, e com respeito pelas emoções e sem ferir a integridade das crianças. (e também não impede de nos colocarmos em causa, de tempos a tempos, e refletirmos sobre eles. Mas se estivermos a ser congruentes e transmitirmos mesmo aquilo em que acreditamos e que praticamos raramente estes limites levantam muitas questões ou desafios). Tratar com igual valor é, por exemplo, pedir algo em vez de exigir ( ouve aqui o podcast sobre Comunicação Eficaz ) , é não achar que temos sempre razão, é levar a sério os problemas e sentimentos , gostos e desaires das nossas crianças. É dar opção, não usar castigos ou recompensas porque não o fazemos com mais minguem , certo? Praticar igual valor pode ser tão simples como pedir desculpa e dizer obrigada. Tratar com Igual Valor é partir da premissa que as emoções, necessidades, limites, opiniões e até desejos dos nosso filhos, desde que nasce, têm a mesma importância do que os nossos. Merecem ser tratados com o mesmo respeito que qualquer outra pessoa, independentemente da sua idade , capacidades ou se os podemos ou queremos satisfazer ou não. Temos competências diferentes, ideias e idades diferentes, capacidades e prioridades diferentes, valores e feitios diferentes , necessidades e limites diferentes, mas temos todos o mesmo valor. Vamos colocar em prática?* *podes saber mais sobre práticas do igual valor com os teus filhos neste episódio do podcast #cócegasnocoração Um abraço amigo, Mariana |
autor+artigos
December 2021
temasAll Comunicação Não Violenta Crianças Conscientes Ensino Consciente Inspiração Mãedfulness Parentalidadeconsciente Parentalidade Consciente Podcast |
o suave milagre | mariana bacelar