à segunda: “Recebe-os de braços abertos e boca fechada” Pode parecer contraditório mas o silêncio é uma forma poderosa de nos conectarmos com os nossos filhos. Muitas vezes, a avalanche de perguntas é mais para sossegar as nossas preocupações do que realmente para chegarmos até eles.Investe um momento em ti para poderes recebê-los como nos recebe um templo – faz uma pausa, algumas respirações, para que, quando entrem no carro ou em casa, estejas mesmo presente.Olhá-los nos olhos, recebê-los com afeto mas dar-lhes o tempo e o espaço que precisem. Sermos a calma e a serenidade que muitas vezes não tiveram durante todo o dia, contarmos algo sobre o nosso dia em vez de iniciarmos o interrogatório e esperar que parta deles a vontade de contar tudo que estamos desejosas de saber. à terça: “Sim aos trabalhos de casa!” Aos nossos, pois claro, que ser pai é curso intensivo de desenvolvimento pessoal! Os nossos trabalhos de casa são tudo que temos de fazer para estar “em dia” quando estamos com eles. Diria que os mais importantes são: 1.O auto-cuidado – ter tempo para ti (seja uma hora de ginástica ou dez minutos de silêncio no parque ou um jantar com as amigas) ou seja, o que te faz recarregar baterias, o que te devolve a tranquilidade conforme for possível. É imprescindível estar bem para nos “portarmos bem” com os nossos filhos. 2.Treinar o músculo do mindfulness para que as sete atitudes façam parte do teu dia e sejam fáceis de utilizar nos momentos mais desafiantes. 3.Conheceres-te e conheceres o teu filho, tentando antecipar necessidades em falta ou limites que não devem ser ultrapassados para não se instalar o conflito 4.Treinar a comunicação consciente – pratica-a com toda a gente, em qualquer oportunidade. Não só se tornará automática com os teus filhos (mesmo nos momentos mais desafiantes) como verás as tuas relações interpessoais melhoradas! à quarta: “Quem vai levar o lixo?” Divisão de tarefas e colaboração à parte, cada um deverá ser responsável por deixar o seu próprio “lixo emocional” à porta – bem, pelo menos os elementos adultos da equipa. Ao entrares em casa ou ao chegares à escola para ir buscar os teus filhos certifica-te que os teus problemas, ansiedades, conflitos no trabalho não “entram” na relação com a tua família. A família pode ser o nosso porto seguro onde desabafamos, encontramos alento e conselhos e onde recarregámos baterias mas nunca pode ser – e muito menos os nossos filhos! – o “saco de boxe” ou o caixote do lixo dos resíduos tóxicos que sobram dos nossos dias. à quinta: “As regras do amor & as rotinas da imaginação” Sei que muito do que nos consome a paciência e leva a desentendimentos são as regras, as rotinas, os horários – sejam as dificuldades em sair da cama de manhã ou as de entrar nela ao deitar, seja o inicio do banho ou o fim do tablet, parece, às vezes, que a nossa interação com os nossos filhos se resume a tarefas e às discussões que elas trazem. Salta fora desta “armadilha” que é a ideia de que ser pai ou mãe é ser gestor de tarefas, de controlar e de disciplinar. Muitos de nós, durante os dias da semana, temos apenas quatro, cinco horas por dia com os nossos filhos – aproveita-as! Claro que é preciso jantar e lavar os dentes e ir dormir a horas, mas que esses sejam momentos de conexão, de presença, e não o contrário. Sei que não é fácil, mas a verdade é que para eles também não é. Sempre que possível torna as rotinas divertidas e agradáveis. Introduzir uma brincadeira, uma novidade, um momento lúdico vai tornar tudo mais leve para todos e as crianças aprendem por imitação, não por lhes dizermos uma ( ou mil) vezes para fazerem algo! Sintoniza com o momento presente, aceita que, a cada momento, és a mãe que és da criança que tens. Lembra-te que todo o “mau comportamento” é um pedido de ajuda, é sinal de haver necessidades por satisfazer – sono, fome, falta de novidade, de conexão, de segurança, de reconhecimento, enfim, só tu podes descobrir – e que toda a resistência é falta de conexão. Comunica os teus limites de forma pacifica e sem reatividade, assegurando que respeitas os deles – verás como tudo se torna mais simples. à sexta: “Uma espécie de máfia reúne: A Família” Esta é uma das ideias preciosas que pode encontrar no Educar com Mindfulness da Mia Övén. Pode ser à sexta ou em qualquer outro dia, não tem sequer de ser semanal, mas criarem um momento “neutro”, marcado com antecedência, cria um ambiente seguro, livre de julgamentos que fomenta a conexão entre todos. Na reunião de família podem fazer um balanço da semana, trazer a lume algo que acham estar a correr bem ou menos bem, fazer planos, discutir a divisão de tarefas, expor alguma mágoa ou necessidade. Todos deverão ser ouvidos e devemos praticar o igual valor. Normalmente os mais pequenos valorizam muito as reuniões de família por sentirem que têm voz e que as suas opiniões contam, o que ajuda ao desenvolvimento de uma boa auto-estima.Que seja um excelente ano letivo! com muito mãedfulness, Mariana
0 Comments
Dicas mãedful:
Ao contrário do que se diz, muitas crianças não gostam de rotinas. Algumas gostam e precisam delas e muitas crianças valorizam muito mais a novidade, a experiência, o inesperado do que o “sempre igual”, o previsível e muito mais em atividades que não sejam brincar, divertir-se. Qual é a graça de lavar os dentes? Sei que me vão dizer que tem de ser, que é assim, que é preciso. E é, segundo os nossos valores e crenças, faz parte de um cuidado seguro e saudável. Dicas mãedful:
3. As crianças querem ( e precisam ) de ter autonomia e poder de decisão Muitas vezes, fazemos pelos nossos filhos coisas que elas já conseguem e até gostam de fazer sozinhos e muitas vezes queremos decidir coisas só porque sim, sem qualquer respeito pela sua individualidade, gostos, opiniões e sensações. A roupa, a comida, a fome e o frio são bons exemplos disto! E de muitas “guerras” que podem ser evitadas se nós largarmos um bocadinho o controlo e confiarmos Dicas mãedful
Das muitas mães com quem falo e acompanho esta é a realidade mais normal – se não recorremos a chantagens, se não é por medo ou para obter algo, a maioria das crianças não quer ir dormir nem sozinha, nem no escuro, nem à hora que nós mandamos! Sei que vão dizer que as crianças precisam de descansar, de ter as horas de sono necessárias e que os pais também precisam de tempo para si. Tudo isto é verdade. Dicas mãedful:
(As crianças querem – acima de tudo – conexão ) E, às vezes, procuram-na de maneiras muito estranhas: batendo, atirando facas (!), desafiando. Sei o que vão dizer: mas se não castigamos, se não mostramos que estão a errar, como vão aprender a comportar-se? Acredito que todo o comportamento visa a satisfação de alguma necessidade. E estes comportamentos agressivos, desafiadores querem dizer apenas duas coisas: ou “estou mal, ajuda-me, não estou a saber lidar com esta situação / emoção, os meus limites foram ultrapassados” ou “olha para mim, diz-me que gostas de mim, dá-me atenção de alguma maneira, mostra-me que te importas comigo”. Dicas mãedful:
12/4/2019 0 Comments gritar não é amarLi, aqui há dias, um texto que, como um holofote, iluminava um ângulo mais agudo nestas coisas da parentalidade, mais ou menos consciente, mais ou menos positiva e que, também, para mim era uma esquina que me custava dobrar, no inicio do meu caminho como Mãe.
Cresci muito desde que sou Mãe. E devo-o ao meu filho mas também a mim. Cada um de nós é, antes de tudo, uma pessoa, um ser humano, sem papel que nos defina mais do que as nossas crenças, valores e atitudes. E, embora a vontade inicial tenha sido essa de desempenhar melhor o papel, foi uma profunda descoberta pessoal, um encontro comigo própria o que a maternidade me trouxe de mais valioso. E de tanto refletir e estudas – e de tão pouco especialista ser – tive (e tenho) sempre muitas dúvidas. Uma era, precisamente, a que o tal artigo levantava e deixava no ar: é melhor ser dedicada, carinhosa, apaixonada, verdadeira, autêntica, empática, envolvida, esforçada e perder a cabeça ( quando me sentia esgotada, cansada, assoberbada, impotente) ou é melhor ser uma mãe mais fria, distante, intolerante, auto-centrada, cheia de regras e rotinas , mais mental e não gritar, não dizer, às vezes, o que não queria, nunca ficar de cabeça quente? A pergunta “Que Mãe quero ser?” devolveu-me a resposta sobre “A pessoa que eu sou”. Levou-me muito longe na busca dessa minha verdade – e de como a expressava. \ As crianças não são complexas, as nossas vidas são. Nós somos complexos, muitas vezes porque somos (ou fomos) feitos de artifícios, impostos por terceiros, que nos fazem viver com o piloto automático, explosivos, reativos, desligados de nós próprios, sem recursos para pedirmos o que queremos de forma pacífica, sem sabermos, muitas vezes, o que queremos, e fazendo a nossa felicidade e bem estar depender dos outros – nomeadamente dos nossos filhos. O que a maternidade me deu foi uma especialização em mim mesma, foi poder crescer como pessoa e, assim, ser melhor mãe. Para mim esta é a verdadeira magia da parentalidade – o seu poder transformador e criador. Gritar não comunica amor, nunca – nem entre adultos, nem entre um adulto e uma criança. Ameaçar ou despejar em cima das nossas crianças – ou de qualquer outra pessoa – desabafos que soem a abandono, culpa ou desespero nunca abona a nosso favor (nem a favor delas). Eu sou uma mãe que grita. Que todos os dias faz o seu possível. Sou uma mãe que grita cada vez menos, e isso faz-me sentir melhor. E faz-me sentir melhor comigo própria e com as minhas emoções. Mais inteira, mais verdadeira, mais em paz. E aqui reside o equívoco do tal texto que incluia os gritos numa maternidade com amor e que paira com muita frequência nas nossas cabeças: é que, sermos mais autênticos, mais verdadeiros não quer dizer ser descontrolados, impulsivos, reativos. Deixarmos o coração assumir o comando dos nossos dias – em vez de regras frias e rotinas desprovidas de paixão – não quer dizer deixarmo-nos ficar para último e depois despejar em cima dos outros os nossos nervos e emoções difíceis de aguentar. Sermos mais dedicados, atentos e levar em conta as necessidades dos nossos filhos, colocar os limites necessários e sustentar os que sentimos ser fulcrais para o seu bem estar, não nos deve fazer sentir nunca no direito de despejar neles as nossas feridas por sarar, as nossas necessidades por atender, a nossa falta de controlo – em forma de berros, ameaças ou de que forma for (embora isso aconteça, está claro e sobretudo a quem está presente e muitas vezes sem turno de substituição!) O controlo, a autoridade maior que podemos exercer é ,no fundo, sobre como viver as emoções, sobre as decisões que tomamos e a vida que (todos os dias) escolhemos viver – e isso também já me pareceu a mim como um bónus que vinha apenas com um feitio mais desapegado, mais frio, e que está, afinal, ao alcance de qualquer um de nós. Na verdade, torna-se uma jóia preciosa quando é descoberto e posto em prática, precisamente, pelos pais de coração quente e amor incondicional, que conversam, que dão colo, que negoceiam e tratam os filhos com igual valor, respeito e responsabilidade, que fazem da parentalidade um assunto sério e ainda assim prazeroso e autêntico, dos pais que não tem todas as respostas, que têm mais dúvidas que certezas, que educam com o coração nas mãos, que fazem figuras tristes, que são humanos e não perfeitos, mas que não vão pelo caminho mais fácil, todos os dias. Crescer em consciência, em respeito (por nós e pelos outros), saber mais profundamente sobre esse iceberg que somos e compreender melhor as nossas emoções e pensamentos , transforma as atitudes e comportamentos que vem à superfície, e esse é o melhor presente que podemos dar – não aos nossos filhos, mas a nós próprias. Chama-se auto-cuidado, chama-se crescer em maturidade. Os berros não são amigos da pedagogia mas também não o são de uma vida pacifica – e os pais mais do que pedagogos, querem-se humanos, e querem-se bons exemplos mais do que perfeitos. Não acredito que o medo eduque alguém, ou tenha benefícios na educação das personalidades a médio, longo prazo. Não acredito que ouvirmos ameaças, sentirmo-nos inseguros, assustados ou desamparados pelas figuras que nos dão proteção, amor e sentido à vida enquanto o mundo é maior do que nós possamos compreender, possa ter qualquer vantagem para o nosso desenvolvimento enquanto crianças – ou adultos. Erraremos muito ainda assim, todos. A vida é tudo menos perfeita e previsível e quem ama sem medida , quem se entrega à autenticidade e se despe da proteção cobarde de regras e preconceitos, de certezas e crenças definitivas , tropeça, claro, mas pode ter a vantagem de se dar conta disso, de se aperceber que não é dono da razão, nem do bom comportamento, que todos temos momentos infelizes, pode pedir desculpa e desculpar-se a si próprio, saber estimar-se e aos que o rodeiam sem almejar ser intocável – pode sair do pedestal de pai, que parece ser apanágio de alguns que gritam e de outros que não gritam mas que nunca estão errados ou se põe em causa – e isto também não ensina nada sobre aprender com os erros, tolerância ou humanidade. Hoje sei, de fonte segura, que alma e paixão não têm de rimar com gritos, ameaças e descontrolo. E enquanto os segundos podem não se conseguir evitar – e está tudo bem – os primeiros querem-se todos os dias e em quantidades generosas nas nossas famílias. Acredito, mesmo, que é mais desses condimentos que todos precisamos para que o mundo se endireite e tome o sentido certo, que é o do Amor – esse sim, o património imaterial mais precioso da humanidade. um abraço mãedful, Mariana |
autor+artigos
December 2021
temasAll Comunicação Não Violenta Crianças Conscientes Ensino Consciente Inspiração Mãedfulness Parentalidadeconsciente Parentalidade Consciente Podcast |
o suave milagre | mariana bacelar