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9/15/2019 0 Comments quem tem medo de uma escola nova?De há dois anos para cá, cada início do ano letivo deixo-me levar por uma certa esperança de que há um um ar mais leve e renovado no ambiente das nossas escolas e salas de aula. Que o cheiro a mofo está a sair por janelas que se abrem aos novos tempos, às crianças do presente e sobretudo aos adultos do futuro que, supostamente, estão a formar. Uma notícia de um horário mais equilibrado aqui, outra sobre espaços de ar livre e recreio alargados e melhorados acolá, entre públicas e privadas , umas deixam de ter toque de entrada, outras onde se aplica a metotologia de projeto, umas onde há jornal da escola e clube do ambiente e ainda uma onde cada aluno se serve da sua comida desde que tem 5 anos. Depois há recomendações de psicólogos de toda a Europa sobre o brincar livre e a sua importância para o desenvolvimento de competências fundamentais, e as práticas educativas deixarem de incluir castigos e recompensas.
Fico com esperança. Acredito, por algum tempo, que agora sim é impossível não verem mais o que importa realmente nos tempos que correm, na educação e formação académica das nossas crianças. Porque começa a deixar de ser, sequer, um pensamento “divergente”, de quem acredita na felicidade e bem estar mais do que no sucesso económico e laboral. Para 2020 (sim, estamos em 2019!) as competências chave para o mercado de trabalho, definidas pelo World Economic Forum, incluem: capacidade de resolver problemas complexos, pensamento crítico , criatividade, gestão de equipas, trabalho em quipa, inteligência emocional, capacidade de decisão e negociação e flexibilidade cognitiva! Por isso e afinal, está tudo na mesma, para a maioria de nós, para a esmagadora maioria das crianças portuguesas. Há rigidez e mesas em fila na sala de aula, como no século dezanove; as nossas crianças são objecto passivo de transmissão da matéria que vem no manual, passam horas - muitas horas por dia! - a preencher formularios, aka fichas, iguais para todos, em silêncio (e por vezes trazem mais para preencher em casa!). Decoram coisas que não entendem. Não tem qualquer autonomia na aprendizagem ou espaço para desenvolver interesses pessoais. Exigem que estejam calados, em vez de os ensinarem a comunicar. Não tem forma de treinar competências sociais, na sala ou no recreio uns com os outros - que é onde elas se aprendem! - porque logo estará um olhar policial a vigiar e a decretar a consequências artificais. São obrigados a comer tudo até ao fim na cantina(!) As artes e o pensamento criativo, original e livre tem peso a tender para zero no curriculo. O envolvimento com a comunidade e o desenvolvimento em cada um deles de uma voz ativa, individual e válida não existe. Passado um mês de escola - que deveria ser esse lugar mágico onde todo o potencial de cada um sobresaísse - os olhos não brilham, os sorrisos evoluem de forma inversamente proporcional aos comportamentos desafiantes. Há aulas de música onde a professora grita mais do que as crianças cantam, aulas de ginástica onde quem não pára quieto(!) vai para o banquinho do pensar e as opções extracurrciulares são tudo menos divertidas, entusiasmantes e apetecíveis. Em que futuro laboral estes miúdos portugueses vão ter lugar? Estou-me a lembrar de meia dúzia de empregos onde este ensino os leve mas talvez fiquem para os tais robots , essas criaturas do futuro. Os nossos meninos também são adultos do futuro e esse futuro nós não podemos conhecer, muito menos em épocas em que tudo muda tão rápido. Mas podemos estar mais atentos e lúcidos em relação ao que se prevê, ao que já se faz noutros paises (e em Portugal em exemplos pontuais maravilhosos*!).Podemos estar atentos aos sinais do mundo e das nossas crianças e manter a esperança que talvez no próximo ano letivo, nas metas curriculares, nos objetivos de cada disciplina, estejam lá as competências-chave que são, afinal do Presente. A Escola não pode permanecer no passado. ❥ *se conheces alguma escola que já tenha chegado ao Presente ou até já esteja no Futuro, partilha comigo nos comentários! Vamos dar a conhecer o que de melhor se faz neste país - pode ser que as outras todas que ainda estão no Passado se animem a apanhar o comboio da educação que importa!
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